segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Dura realidade

No último fim-de-semana marquei presença em mais um festival de tunas, desta feita em Viseu, mas desta vez, porque nem só de parvoíce é feita esta vida, não quero falar das desventuras do fim-de-semana, mas do final deste. Nestes fins de semana de festival, fica sempre a sensação que quando à 6ª feira deixamos Lisboa rumo a qualquer lugar, deixamos também para trás a realidade do dia-a-dia, para entrar num mundo à parte, tal como no domingo à chegada a Lisboa voltamos à dura realidade...

Porém desta vez a realidade apresentou-se mais dura que nunca, uma realidade da qual já não faz parte um amigo...de 4 patas e 13 anos.
Neste momento não consigo perceber o que sinto...sempre pensei que este seria o pior dia da minha vida, e certamente que não está a ser fácil, mas ao mesmo tempo sinto-me aliviado pela forma como aconteceu...

Há mais de um ano que lhe tinham diagnosticado um sopro no coração. Tendo de tomar comprimidos todos os dias já se sabia que a chegada deste dia era uma questão de tempo, e desde aí que me tenho vindo a preparar - se é que é possível preparar tal coisa - embora tivesse menos genica que outrora ainda parecia saudável, pois corria, saltava, e brincava como um cachorro...Foi principalmente quando perdeu a audição que me comecei a mentalizar para o pior...mas o pior nem era isto, mas sim ter de vê-lo a perder faculdades, pois provavelmente seguiria-se a cegueira, ou a perda lenta da locomoção...até ao dia em que o encontrasse sem vida num qualquer sofá da casa. Assim apenas me consigo sentir grato por nem eu nem ele termos de viver momentos assim. Posso lembrar-me para sempre dele igual a si próprio, sempre com vida e com imagens alegres. Ainda não consegui falar com os meus pais sobre o assunto, mas terá morrido de noite, provavelmente aos pés da cama embrulhado no mesmo edredon onde estava 6ºa feira, quando lhe fiz a última festa antes de sair de casa. Naquela altura, lembro-me de pensar, quando a minha mãe me disse que ele não se tinha conseguido levantar de madrugada para ir à rua, que ele estava a piorar e talvez aquela fosse a última vez que o via, tal como já tinha pensado outras vezes, mas esperando estar a ser apenas pessimista mais uma vez. Acho que não teria aguentado sequer olhar se lá estivesse...

Durante muitos anos, a seguir ao toque da campainha da porta seguia-se um ladrar familiar, o som de patas a arranhar a porta e do bater da cauda com toda a força no móvel da entrada e no sofá, tal era a alegria com que ele a abanava. Era um abanar de quem se sentia contente por me ver...um abanar sempre sincero, impossível de ser fingido ou evitado, e que faz do cão o melhor amigo do homem, pois não há outro ser no mundo que mesmo sem falar consiga ser tão verdadeiro nos sentimentos que exprime. Toda esta festa era sempre igual tivesse eu estado fora 15 dias ou tivesse ido beber café ao fundo da rua, e lembro-me do estranho que era entrar em casa nas semanas que ele passava fora, por à hora de voltarmos de uma visita aos meus avós, ele ainda andar a vaguear pela aldeia. Esta semana vai ser mais comprida que qualquer outra...

Podia escrever sobre ele mais 100 posts que ainda assim seriam poucos para me despedir...mesmo que pudesse vê-lo uma vez mais, e voltar a falar-lhe enquanto ele me olhava com olhos de quem diz: "Não sei o que é que tás para aí a dizer mas já percebi que te vais embora! Lava-me contigo!" só lhe queria dizer o que sempre dizia ao sair de casa...

Adeus Toby ;)

Um comentário:

Carla Nunes disse...

Eu e o Toby tivemos uma relação complicada no início... os ciúmes da partilha da tua atenção, as tentativas de boicotar o namoro sentando-se no meio dos dois ou ao colo dos dois... ou os meus ciúmes ao observar tamanho carinho e cumplicidade entre ti e ele.

Mas com o passado do tempo, umas barras de chocolate e bocados de bolacha a relação foi melhorando...

Depois da minha Dara ter partido, ele passou a ser o meu idoso, o meu velhote que fazia birras que nem gente grande para ir ao veterinário e que não podia ver um doce... :)

E agora, chegar à tua casa e tocar à campainha já não é o mesmo e até o sofá parece grande demais sem aquela presença que eu aprendi a gostar e a cuidar como se fosse meu.

Estou do teu lado, e espero que ambos consiguemos tapar este buraco que ficou nas nossas vidas.

Txau tobinho...