segunda-feira, 9 de março de 2009

A Demanda das Bolas do Dragão

Atado que estava o hipópotamo com uma trela de corda improvisada, e com os pertences às costas, Giromo partiu na companhia de Gina, em direcção à vila.
Para quebrar o silêncio que se colocara entre eles, Giromo perguntou:

- Ainda não me haveis dito o que em boa hora vos trouxe a estas mal-assombradas terras?

- Venho candidatar-me a ajudante do médico da corte, que diz que está velho e quase senil, pra não falar na falta de vista. Veja bem que fez no sábado 5ª feira, que o malvado foi tratar dum pobre enfermo acamado devido a uma hemorróida agúda em 3º grau, e por forma a ver de melhor enfiou-lhe um coto duma mangueira pelos entrefolhos do nalguedo, pra espreitar à outra ponta, mas não vendo nada com a escuridão, acendeu um fósforo e mandou-o pela mangueira abaixo...ora assim que o lume se apossou dos gases intestinais, aquilo deu em arder material e estoirar foguetes...parecia as festas de São Firmino...diz que o coitado desde aí que já nem caga...só deixa cair. Ainda assim o doutor é um homem sábio, e espero que me passe alguns dos seus conhecimentos antes de bater as colheres.

- Nesse caso acompanhar-vos-ei à sua presença que sou capaz de tar a chocar alguma.

O velho doutor tinha os seus aposentos na torre mais alta do castelo de pedra branca, que se erguia imponente no topo do Monte Raso. Desde a entrada da muralha às portas da torre era quase meia hora a pé, isto se não parassem admirar as pêgas da rua direita ou os naprons feitos à mão que as velhas vendiam a vulso em cada esquina. O sol já ía alto quando a alcançaram e ouviram o velho curandeiro berrar lá de dentro - Tá aberta, puxai a corda!
Puxaram o atilho e sentiram o trinco abrir-se, para possibilitar a entrada numa sala oval, coberta a toda a volta de altas prateleiras empoeiradas, que suportavam estranhos utensílios de madeira ou metal, e inúmeros livros de grossas lombadas e folhas amareladas.

O doutor encontrava-se sentado a uma secretária de mogno, e fez-lhes sinal para que se sentassem em duas velhas cadeiras de verga, algo carcomidas pelo caruncho.

- Estou só aqui a acabar de desenhar estas radiografias. Tive que dispensar a impressora ontem, gastava-me os tinteiros todos, e desenhava-me as fracturas todas tremidas, ainda pensei de ser das penas, mas afinal era Parkinson. Já não se arranja escravas capazes a ganhar menos duma côdea de pão e um coxo com água, por meio-dia de trabalho...e a culpa é dos porcos dos sindicatos, havera de ser eu que mandasse, era juntá-los todos, besuntados com mel e largados aos ursos. Enfim, já está...ora digam lá jovens que vos trouxe cá?

- Eu vinha-me candidatar ao lugar de sua ajudante, que muito me honraria, ficando-lhe eternamente grata se me aceitasse.
- Bom, a menina deve calcular que as candidaturas são mais que muitas, que referências trás?
- Tenho esta carta que me escreveu meu marido antes de me abandonar...
- O seu marido era médico?
- Não, mas quando soube que ele me encornou tratei-lhe da saúde.
- Ah, menos mal. Acho que tem o perfil indicado, e deixe-me dizer-lhe que a minha decisão será certamente entre si e uma outra candidata que entrevistei ontem.
- É boa médica?
- Não, mas é tesuda. Só tem um pequeno defeito...
- Celulite? Mamas pequenas? Uma verruga peluda?
- Não, falta-lhe um braço, mas tem uma boquinha de ouro...

Um silêncio de tal madeira denso invadiu a sala, que era possível cortá-lo à faca...Gina tinha de puxar dos seus melhores argumentos para sair daquela situação...puxou das saias. O velho arregalou os olhos ao ver aquele cenário, e quase lhe despencou o queixo quando viu o sexo de Gina como que piscar-lhe o olho.

- Como é que fez isso??
- Assim - disse Gina repetindo a piscadela - doutor, enfie-lhe dois dedos...
- O quê? Essa merda também assobia? Contratada!

Gina voltou a compor-se, e desta vez foi Giromo que falou.

- Ó doutor, eu vim cá que era pró sôr doutor me ver aqui as partes fodengas que um malvado dum lagostim me ferrou.

Quando baixou as calças um arrepio percorreu-lhe o corpo ao ver que o seu estimado saco se apresentava num tom arroxeado, e no sítio da mordedura ostentava uma marca negra como bréu.

- Tenho más notícias pra si...esta marca que aqui se vê é um selo amaldiçoado, e temo que não o consiga remover se não me trouxerdes as bolas do dragão.
- Bolas do dragão? As sete bolas de cristal que se encontram espalhadas pelos quatro cantos do mundo, e que quando reunidas conferem ao seu portador o poder de invocar o dragão sagrado que realiza qualquer desejo?
- Não animal, os culhões do bicho.
- Ah...mas em que é que isso me vai ajudar?
- Nada, mas dão um petisco que é um mimo, e puxa prá cerveja...já ando a enjoar túbaros de porco.

to be continued...